Pr. Juraci Matos e Pra. Helena Matos

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Prs. Juraci e Helena Matos -- Livres para Pensar e Viver!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Fé Genuína


Há muito tempo falou-se em secularização, história, encarnação na história. Hoje, portanto, predomina o espiritualismo. A religião está mais viva do que nunca. O homem contemporâneo é frustrado com a traição do positivismo, que não somente deixou de cumprir com as promessas de felicidade à humanidade mas intensificou o seu sofrimento. O homem pós-moderno está inteiramente aberto a uma experiência religiosa.
Reconhecendo a fé como o fundamento da religião observamos a necessidade de se definir o verdadeiro significado da fé, para proporcionar ao homem uma autêntica experiência religiosa que o ajude a resolver-se integralmente.

É preciso saber os limites da relação entre fé e razão. A fé não é irracional, mas também não é dominada pela razão. A fé se volta para o transcendente. A confiança em algum objeto sem nenhuma base racional não pode ser chamada de fé, e sim crendice ou credulidade. A fé é também diferente de crença, pois esta é baseada no saber confiante sobre verdades empíricas ou comprovadamente racionais.
Devemos atentar para os danos que as superstições tem causado na sociedade. Os homens tem atribuído poderes a entes ilusórios, puramente lendários (fatos históricos deformados pela imaginação popular), inexistentes, e depositado confiança em objetos que embora existindo são ineficazes. Frustração, decepção e desespero são os prejuízos sofridos pelo indivíduo supersticioso.
Se faz necessário ressaltar os perigos do fanatismo religioso, mais violentamente ativo nas religiões que exaltam ideologias e desvalorizam a vida. Sabemos que o problema do fanatismo é também de ordem individual, mas muitas religiões são responsáveis por abonar alguns sentimentos no indivíduo, desenvolvendo no mesmo um estado de radicalismo crônico que o leva a matar e morrer por ideologias. Hoje, mais do que nunca, precisamos nos tornar aversos a expressões religiosas que exibem sinais de subjugação. É de fundamental importância distinguirmos a verdadeira fé das expressões de coatividade presentes e manifestos em várias religiões.
A verdadeira fé não é em nada prejudicial ao homem, pois não se reduz a cego fideísmo e romântico sentimentalismo. A fé genuína chega a ser um poder integrador da personalidade humana, capacitando o homem a viver e agir em prol da vida. Ter fé é ter ânimo para viver e para lutar em favor da vida.
Neste aspecto nos sentimos estimulados a louvar a religião cristã, pela sua ênfase ao amor pleno, destinado aos seres que estão acima de todas as coisas: o ser Deus e o ser homem. No cristianismo estes dois seres estão inseparavelmente unidos como concedentes e recebedores do amor. Ama-se a Deus o ser invisível, amando o homem o ser mais visível na religião. O discurso cristão proclama a piedade e o perdão. Para alcançar o paraíso cristão não se faz necessário morrer matando, mas pelo contrário, necessário nos é morrer perdoando. O Cristianismo conclama a paz invés da guerra. Amar a vida é a essência da mensagem cristã.
Existem temas transcendentais que estão sob o domínio da religião e são extremamente benéficos à sociedade. A religião cristã, por meio da fé, oferece ao indivíduo favores eternos, por manter uma boa conduta ética na sociedade. A fé cristã aponta ao homem um caminho ético e um fim proveitoso para os seus esforços. Este é o caráter escatológico da fé, o qual qualquer filósofo ou cientista responsável reconheceria como fundamental para uma sociedade moralmente equilibrada.
A escatologia é a doutrina da esperança. Esperança é um modo de fé que favorece toda sociedade orientando o homem como portar-se diante do futuro. Através da esperança a religião responde a um dos maiores questionamentos do homem pós moderno: “qual o meu destino?”. A fé cristã propõe um destino e um propósito para a existência humana. Através desta fé o homem pode viver a liberdade com responsabilidade, sem frustrar-se com as derrotas, nem dezumanizar-se com as conquistas. A esperança escatológica é um tema da fé que pode livrar a humanidade do desespero causado pelo racionalismo radical e pela frustração do progresso científico.

Portanto, podemos afirmar com audácia que a fé genuína é o elemento mais importante na vida do homem pós-moderno. Pois este homem não tem motivo para ser ético, muito menos fraternal e piedoso, sendo estas consideradas as características dos derrotados na consciência da sociedade atual. “Superar a tudo e a todos” é o lema da pós-modernidade, é o grito dos grandes sistemas políticos e até mesmo de alguns sistemas religiosos. “Amar as coisas e usar as pessoas” é o tema do materialismo racional. Essa mentalidade e propósito domina até mesmo o desenvolvimento científico, que enganosamente propaga-se evolver em favor da humanidade.
O progresso científico tem gerado opressão e desespero. O homem pós-moderno sente-se frustrado e traído, pois o seu aspecto emocional e subjetivo foi desconsiderado pelo racionalismo radical.

A fé vem ovacionar que o homem não é um mero objeto atingível externamente, mas um ser dinâmico criador e emocionalmente livre para viver uma felicidade que transcende às realidades físicas cognoscíveis.

Juraci Matos Rocha (pr_jmrocha@hotmail.com)
Teólogo
Coordenador do Centro de Estudos Teológicos Brasileiro
Filiado à Associação Evangélica de Teólogos da América Latina

O autor de cada texto é o titular exclusivo dos direitos autorais sobre a sua respectiva obra (Lei nº 9.610/1998, arts. 7º, I; 11; 17 e 18).
A reprodução de qualquer texto deste blog depende de prévia e expressa permissão do respectivo autor através do e-mail supracitado, conforme descrito nesta página, sem prejuízo da devida menção aos nomes do autor e da fonte.
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Uma das características do mundo atual é uma sociedade de massificação, na qual o indivíduo é influenciado pela comunicação de massa, e passa a repetir gestos e assumir posturas estranhas ao seu modo próprio de ser.
Triste saber que no meio religioso essa massificação tem acontecido com mais intensidade do que em qualquer outro lugar. Estamos em um momento de transição do quarto poder, o qual antes pertencia à mídia, mas a mídia foi comprada pela religião, e está sendo agora uma ferramenta de propagação, não do Evangelho puro e simples como deveria ser, mas dos interesses dos idealizadores religiosos. Algumas vezes penso que a mídia ficaria melhor no monopólio anterior, pois agora sofremos nos dois polos, na mistura do santo e do profano, do discurso espiritual com a avareza material, da falsa humildade e da arrogância clerical.
Além de toda a semana de pressão da mídia carnaligiosa, muitos eventos de massificação se concentram nos fins de semana, nos sábados e domingos religiosos, por ser estes os dias em que os indivíduos saem do seu cotidiano e imergem num mundo dos sonhos que poderiam mudar a realidade dos demais dias da semana.
Nestes dois dias, as platéias que se formam preferencialmente nos maiores ginásios e estádios das grandes capitais, ficam cheios, onde promove-se os auês, esportivos, políticos e religiosos. Nesses locais acontece um verdadeiro show da fé, que na verdade é uma manipulação discarada do inconsciente coletivo. Também nesses fins de semana as multidões que deixaram de ser “teventes” da mídia para serem telespectadores dos púlpitos, tornam-se o centro de inflição. O “tevente” ainda questionava acerca do que estava recebendo através da tevê, pois ainda possuía o caráter de agente combativo; mas o telespectador de púlpitos, pressionado pela sua necessidade espiritual e pela reverência ao lugar supostamente sagrado, busca o espetáculo dos milagres, mesmo que esse represente o seu vexame, para ele tudo o que produz admiração ou prazer imediato é absolutamente espectável. O entretenimento religioso é um produto vendido por um preço muito alto, a moeda é a própria alma. Aqui agora vale tudo. Valem os pregadores do barulho, valem os efeitos especiais dos palcos, valem os testemunhos dos “ex” que deveriam ser presos após tantas barbáries declaradas em público, valem os titulares sumo-sacerdotes da religiosidade, donos dos segmentos religiosos, os quais não precisam falar muito, apenas a presença sacralizadora deles é o bastante. O importante é beijar-lhes a mão e molhar-lhes o bolso.
Diante das ordens e pressões dos tiranos dos palcos o indivíduo em pouco tempo se perde no labirinto do querer ser, o ter que ser e o ser de fato. Ante o midiático e o dogmático a pessoa perde a liberdade e a vida, soterrada numa avalanche de ideologias e produtos na sala de sua própria casa ou no salão da casa da religião.
A massificação não é importante nem mesmo no caso de influencia a elementos bons à sociedade. Pois o indivíduo empurrado a uma direção hoje, será também facilmente empurrado para a direção oposta amanhã, a depender da massa. Mas o indivíduo que dialoga, expondo as suas idéias, sendo questionado, e por sua vez questionando, reflete acerca das causas e efeitos das suas ações e alcança a verdadeira orientação, sendo estimulado por sua própria convicção, não pela multidão, nem pelos cabeções da religião.


Juraci Matos Rocha (pr_jmrocha@hotmail.com)
Teólogo
Coordenador do Centro de Estudos Teológicos Brasileiro
Filiado à Associação Evangélica de Teólogos da América Latina

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